Universalismo

Há alguns anos atrás a questão da espiritualidade era tratada de forma religiosa. Tudo o que se referia à meditação, oração ou introspecção era rotulado ou classificado dentro de algum segmento religioso ou de crenças espirituais. Até as questões da bioenergética, como os chacras e a energia do campo áurico humano, estavam vinculadas à cultura religiosa dos povos, tanto que a aura humana, hoje já desvendada pela ciência através de equipamentos ultramodernos, antigamente estava atrelada à sabedoria milenar de algumas culturas.

Muitos nomes foram dados ao longo dos séculos para a energia do corpo humano. Os russos a chamavam de Bioenergia; os hindus, de Prana; os chineses, de Chi; os egípcios, de Ka; os japoneses, de Ki; os gregos, de Pneuma; os judeus, de Nefesh; os kahunas da Polinésia, de Mana; os alquimistas, de Fluído da Vida e os cristãos, de Luz ou Espírito Santo.

Na idade média, as pinturas renascentistas traziam imagens de santos com uma auréola dourada. Naquela época, tanto os pintores como os sábios religiosos traduziam a luz espiritual somente em obras com santos e figuras sacras. Hoje sabemos, através de comprovações científicas, que todos nós possuímos essa energia internamente como uma resultante de nosso metabolismo celular.

Talvez em toda a história da humanidade nunca houve tanta liberdade para optar entre questões espirituais. Há muita informação disponibilizada na Internet e nas livrarias, tanto que a ciência e a espiritualidade vêm convergindo para um mesmo ponto: a descoberta de muitos segredos, dos mistérios filosóficos e a união da ciência e da espiritualidade com o objetivo de tornar o ser humano integral em corpo, emoção, mente e espírito.

O surgimento da terapia holística e da medicina integrativa vem para realizar um ser humano completo e feliz em todos os sentidos, equilibrando-se consigo mesmo, com o ambiente e com a comunidade onde está presente.

As investigações científicas acerca da espiritualidade têm nos mostrado que os povos mais antigos, mesmo sem os esclarecimentos tecnológicos de hoje, já haviam mapeado todo o sistema de anatomia sutil do corpo humano. Na Índia, a medicina ayurvédica já trabalhava com anatomia sutil há 9000 anos; a medicina Tibetana já conhecia esse sistema antes da Índia. O oriente é muito rico e sábio cientificamente, desvendando há muito tempo atrás e com a simplicidade de Deus, questões que até hoje para nós, ocidentais, são um grande mistério.

Em muitos momentos questionamos por que o Oriente está tão à frente do Ocidente nessas questões. Diriamos que a diferença que existe entre o Oriente e o Ocidente é a mesma diferença que existe entre o Coração (Oriente) e o Cérebro (Ocidente).

O coração e o cérebro vivem com duas polaridades opostas. Como crianças antagonistas e hostis que preferem brigar a encontrar uma forma de sintonia e entendimento.

O coração é sábio, amoroso, expansivo, intuitivo, conectado com a Fonte Divina e é o nosso primeiro elo com a energia criadora do universo: o amor. Em contrapartida, acumula mágoas, tristezas e frustrações, principalmente por perder os limites entre o amor divino e as situações possessivas que nos conduzem ao sofrimento. O coração pode ser comparado ao Oriente porque, historicamente, os povos orientais demonstram um grande desequilíbrio entre o amor divino, a adoração religiosa e o radicalismo, que leva à fé cega, como por exemplo, os atentados no Oriente Médio, onde milhares de pessoas já foram dizimadas em nome de Alá. Para o coração prevalece o espiritual…

Se existe um grande comandante em nosso corpo, é o cérebro. Por ser lógico e racional, o cérebro se torna a maior conquista do ser humano. Nossa evolução até a materialização do raciocínio e das emoções é o que nos faz diferentes de todos os outros seres deste Planeta.

Em contrapartida, é através do cérebro que são processados nossos pensamentos: o combustível de toda a realidade material. O passo anterior a tudo o que se materializa é o processamento na mente de alguém. A própria materialização do universo e do Planeta Terra é fruto de uma mente Superior. A mente lógica e racional torna-se indispensável ao ser humano, mas, quando em desequilíbrio, provoca um distanciamento do coração e do espírito. A mente pode ser comparada ao Ocidente porque o limite de utilização dos recursos naturais e destruição da natureza foi ultrapassado há muito tempo, estabelecendo-se uma sociedade orientada para o consumo desenfreado, para a crença na matéria, esquecendo-se completamente do espírito.

Para a mente prevalece o material, tudo aquilo que é físico. E é justamente aí que o desentendimento se estabelece: a falta de equilíbrio na relação mente e coração, como uma convivência turbulenta entre vizinhos hostis. Nossa mente consciente vive na terceira dimensão e nos dá uma noção contábil de dados e fatos de realidade. O coração vive numa dimensão espiritual, onde o real não pode ser tocado.

E o que é realidade???? É somente o que pode ser visto???

O vento é real e não pode ser visto. Porém, em desequilíbrio, pode destruir cidades inteiras…

Nossa mente e coração desequilibrados criam a destruição e o caos! A mente é yin. O coração é yang.

Essa separação e desequilíbrio se deram quando a humanidade, por força de situações cármicas e equivocadas, decidiu que a energia masculina governasse o mundo. Não que a energia feminina deva prevalecer, mas é necessário que aconteça o equilíbrio entre as duas polaridades. Não podemos defender somente o coração ou a mente, mas equilibrá-los. O desrespeito para com o papel da energia yin, há milhares de anos, fez com que acontecesse uma aproximação com a racionalidade científica e um distanciamento com o mundo espiritual.

A supressão da energia yin se deu pela fragilidade do ser feminino que, ao longo dos séculos, sucumbiu à energia masculina, desequilibrando a essência humana. Então, o mundo se tornou científico, lógico, reto, duro, brutal, hostil, bélico, mecanicista e estressante…

A magia da energia yin foi extinta e a época da ?Santa Inquisição?, que dizimou milhares de inocentes, dispensa maiores comentários.

A discriminação feminina presente em algumas culturas perdura até os dias de hoje. Isso também poderia ter acontecido com a energia masculina, o que seria tão prejudicial quanto os tempos atuais.

Caro leitor, não estamos defendendo o feminismo, longe disso. O que defendemos aqui é o equilíbrio entre as forças, como se as duas polaridades estivessem de mãos dadas, lado a lado. Mas precisamos relatar o que de fato aconteceu nos últimos séculos para que possamos compreender o momento atual. A energia feminina foi suprimida a tal ponto, que necessitamos de uma intervenção Divina.

Na época em que a bomba atômica é descoberta, chegamos ao nosso limite de ignorância espiritual. Os Grandes Mestres, repletos de compaixão, interferem no plano cármico do Planeta para restabelecer o equilíbrio das forças, trazendo de volta a energia feminina, que hoje já se encontra mais presente, inclusive nos seres masculinos, trazendo-lhes mais sensibilidade e sentimentos compassivos, que são a base desta Nova Era espiritual, que vem se abrindo nos últimos anos.

Neste novo Plano Divino para a Terra está prevista a encarnação em massa de espíritos com maior vivência ocidental no oriente e vice-versa, para que uns possam aprender com os outros. Hoje é muito normal que alguém do oriente se sinta afinizado pelos assuntos do ocidente!

Com a abertura dos portais de luz, principalmente de 1992 em diante, as medicinas orientais, tão sábias, preventivas e equilibradoras, que são chamadas de alternativas, têm ocupado cada vez mais espaço na mente e no coração das pessoas. O ocidente ainda está engatinhando nesses conceitos, pois aqui os tratamentos são feitos com base na cura da doença e não no equilíbrio e felicidade do doente, prevalecendo uma atenção extrema ao físico, que é apenas o último estágio da doença, como se fosse a várzea de um rio que vai acumulando poluição e dejetos.

Na Antiguidade, a medicina, a política e a ciência sempre estiveram interligadas. Porém, quando o ser humano se distanciou de Deus, de sua essência natural, que é espiritual, e permitiu que o ego negativo prevalecesse, houve uma época de trevas e de separação.

As Cruzadas foram uma das maiores eras de distanciamento da espiritualidade. Uma visão totalmente distorcida impeliu muitos homens cegos de poder e sedentos de ira a matarem seus irmãos em nome de Deus, tudo isso por discordância religiosa, por acreditar que uma religião era a certa e outra era a errada.

Então houve a maior tragédia de todas: o corpo foi separado do espírito, o conhecimento da sabedoria, a ciência da espiritualidade, a justiça da cooperação, a firmeza separou-se da solidariedade e o amor distanciou-se do parjna, tornando o ser humano individual e distante de Deus.

E com isso, nasceram ainda mais religiões e grupos divergentes, criados pelo ego humano para separar, para criar desunião entre os povos, para trazer a guerra, a morte e o desrespeito.

Não há necessidade de intermediários entre nós e o Todo, Deus, o Grande Espírito. Não precisamos de crença religiosa quando existe um coração pulsante no peito! O chacra cardíaco, em sânscrito, é chamado de Anahata, que possui uma das traduções como ?Câmara Secreta do Coração?. Nosso coração é a maior ponte de conexão com Deus, que é a única chave de acesso da qual necessitamos.

Isso é universalismo.

É quando cada ser humano se vê como único espiritualmente e se reconhece com o direito e a liberdade de criar sua própria forma de conectar-se à Fonte Maior, através dos seus sentidos: com a visão contemplando a natureza de Deus, seja na beleza de uma flor ou de uma tempestade. Com a audição, escutando o barulho do vento. Com o paladar, sentindo a leveza da água. Com o olfato, sentindo o cheiro da primavera e com o tato, sentindo o calor do sol… e através da intuição, desenvolvendo o sexto sentido e a plenitude do amor e da compaixão.

Ser universalista é libertar-se dos grilhões que nos aprisionam e que são criados por nossa própria consciência; congestionada de tantos dogmas e regras impostas por sistemas de crenças que hoje já não explicam sequer as coisas mais simples, porque se encontram parados.

Ultrapassados.

Empoeirados.

É necessário mudar.

Os novos tempos exigem mudanças radicais de comportamento, exigem evolução consciencial.

Ser universalista é sentir-se bem, sem culpas religiosas ou pecados originais. Como alguém pode ser feliz sabendo que já nasceu “pecador”, num estado culposo e irreversível? Que só o fato de existir, já o faz se sentir culpado. Talvez você, amigo leitor, não se sinta assim porque está desperto.

Parjna ? sabedoria para amar. Quem exerce o parja jamais confunde o amor com apegos e paixões obsessivas. O parjna é o amor compassivo, que compreende e respeita a liberdade individual.

Mas a realidade da maioria dos templos religiosos se caracteriza pelas massas de fiéis que carregam uma culpa hereditária e inconsciente e isso os leva a crer em palavras como castigo e punição, até que se desencadeia o mal do século: depressão e falta de esperança!

Já o ser universalista se sente em união com cada estrela, com cada parte do cosmo, com cada inseto e ser humano, neste ou em outros planos. É universal pela certeza de ser imortal. É um estado de espírito. E, por isso, esse ser humano universalista ama Jesus, Krishna, Buda, Alá e todas as criaturas do universo. Consegue enxergar a sabedoria do Todo (Deus) manifestando-se em cada um deles. Vê o Holos. Sabe que não foram os Grandes Mestres que criaram as regras religiosas, como se a vida fosse um jogo de comportamentos arquetípicos. Cada ser é único e deve desenvolver seus próprios métodos para ser feliz…

Os dogmas são falhos e não dão explicações convincentes porque são criados por nós, seres humanos, e guiados muitas vezes pela ignorância. Todos os Grandes Mestres que aqui na Terra estiveram traziam uma proposta de amor, sem separação ou religiões.

Mas algumas pessoas que detinham as principais informações acerca dos Grandes Mestres, distorceram as escrituras, deixando prevalecer seus interesses pessoais. Tanto que, até hoje, com tantas comprovações que poderiam modificar a vida humana para melhor, sempre se dá um jeito de “abafar” ou “esconder” os fatos, por medo da queda de estruturas milenares que são sustentadas por mentiras. Mas as máscaras estão caindo, e as estruturas se abalando. E não vai demorar muito, pela própria vontade dos Mestres e dos seres humanos, a verdade prevalecerá. Então, os que despertarem para o universalismo darão seu salto quântico, transformando a Terra em um ambiente de luz e amorosidade, eliminando sentimentos negativos, cultivando a sabedoria, o diálogo, estendendo a mão aos irmãos e cooperando para o desenvolvimento espiritual através da compaixão.

O ser humano universal sempre entende seu irmão que ainda não despertou, como a perspectiva do avô que observa seu neto. Hoje ele é avô, maduro e experiente, mas nunca esquece que um dia foi criança e por isso não exige que o neto entenda ou sinta o que é tornar-se avô. O ser humano universal compreende que a criança precisa experienciar e viver a transformação. Cada ser tem um tempo para se transformar. Ajudar um irmão sendo compassivo, compreensivo, dar dicas e muito amor é muito diferente de interferir em seu livre-arbítrio, ou forçá-lo a mudar. Isso é fanatismo, nada saudável e gera carma negativo, por interferir no processo evolutivo alheio, além de interromper uma fase importante de autodescoberta.

Ser universal é, antes de tudo, respeitar os processos evolutivos e o momento de cada um, eliminando a ignorância para que a sabedoria aflore!

Fonte: CÂNDIDO, Patrícia. Grandes Mestres da Humanidade. Porto Alegre, Luz da Serra Editora, 2008.